Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso

 

Uma vez que Fernando Collor foi obrigado a se afastar do cargo quando a Câmara dos Deputados aprovou a abertura do seu processo de impeachment por corrupção, Itamar Franco, o vice dele, assumiu interinamente a presidência da República no dia 2 de outubro de 1992.  

Assumiria de vez no dia 29 de dezembro depois que o Senado decretou o impeachment de Collor.

Mesmo na condição de interino, Itamar decidiu montar seu próprio governo.

A dois dias do anúncio dos nomes dos novos ministros, ele ainda não escolhera o da Fazenda – na época, o mais importante de um país que convivia com uma inflação mensal de 20%.

Havia figurões do eixo-Rio-São Paulo-Minas dispostos a aceitar um convite para o cargo. Mas o que fez Itamar?

Reunido em sua casa com amigos na noite do dia 1º, convocou para uma conversa o deputado federal do PFL Gustavo Krause, duas vezes secretário da Fazenda de Pernambuco, ex-vice-governador e ex-vereador pelo Recife.

Krause era deputado federal pela primeira vez, eleito em 1990. E estava cotado para assumir o ministério da Integração Regional.

Foi grande o susto que Krause tomou ao ouvir Itamar dizer que pensava no nome dele para ministro da Fazenda. Krause ponderou:

– Se o senhor escolhesse para o ministério da Fazenda um ilustre desconhecido, enfrentaria problemas. Imagine escolher um desconhecido que não é ilustre…

José Aparecido, ex-governador de Brasília e testemunha do encontro, saiu em defesa da nomeação de Krause. Aureliano Chavez, ex-vice-presidente da República do último governo do regime militar de 64, também.

Itamar queria um ministro da Fazenda que fosse competente, mas que não se tornasse mais importante do que ele.

Então virou-se para Krause e disse:

– Eu faço um apelo…

Krause o interrompeu:

– Presidente da República não faz apelo.

Ganhou o cargo. Que perderia depois de 75 dias.

O chamado “mercado” não engoliu a indicação de Krause. Ele foi substituído pelo economista Paulo Hadad, que durou no cargo menos tempo, e em seguida por Elizeu Rezende, que durou menos tempo ainda.

O ministro da Fazenda seguinte ficou no governo até quase o seu fim, e dali saiu para se eleger presidente da República – Fernando Henrique Cardoso.

Por Ricardo Noblat

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