Por MILTON MARINHO

ITORORÓ: No dia 22 de agosto, o prefeito Adroaldo Almeida inaugurou uma grande obra no município. A praça que leva o nome de um ex-prefeito muito bem conceituado entre nós. A homenagem era merecidamente para nada mais, nada menos, que o saudoso amigo do povo de Itororó, José Ferreira Pinto. Até aí tudo muito bem e, o mundo inteiro aguardava ansioso para as honras e as glórias dessa homenagem ao grande Zeca Pinto, meu amigo particular e pai do nosso deputado Rosemberg Pinto.

O jornal oficial rodado em 4×1 circulava de mão em mão, anunciando em fontes garrafais, “Times New Roman bold”, (somente uma licença estilística) uma série de obras, porém na verdade, somente uma obra existia de direito para deleite popular: A RODA. Proclamava os meios de comunicação, diga se de passagem em sua maioria, oficiais. As peças ou os “spots” de rádio retiniam em nossos ouvidos, de modo ensurdecedor, ou melhor, admoestador. Adroaldo vai inaugurar a roda! Adroaldo vai inaugurar a roda!… Ah, a roda. A rótula, e meus olhos se embotavam de cimento e lágrima.

Passei pela manhã no local pra ver a grande obra, afinal levava o nome de uma dos maiores figuras da história política de Itororó, do meu amigo Zeca Pinto. O deputado federal Geraldo Simões e o filho da terra, deputado estadual Rosemberg e sua família estariam presentes ao evento. Tudo levava a crer que o ar, as emoções do ato se fundiam com a pompa e o glamour do tão esperado dia, da tão esperada hora em que veríamos ali, naquele lugar demarcado o busto de seu Zeca, fundido em bronze ou cinzelado em um finíssimo mármore de Carrara vindo de São Paulo ou da Inglaterra. Pelo valor da emenda orçamentária e o apetite laborioso do prefeito pra tornar Itororó uma cidade tão maravilhosa como Paris. Não teríamos dúvida que esta obra seria a menina do olho do governo “PARA QUEM MAIS PRECISA”.

A cidade estava num frenesi como jamais a vi, um misto de final de copa do mundo com a abertura do pote de ouro encontrado no fim do arco-íris. Imaginemos a cena.   Um vislumbre sem igual, Uma alegria tão bonita que, como Dasanta a musa, causava horror. “Miserê” re-re nobis, ora, ora pro nobis”, Do alto da encosta visitei o lugar inaugurado, notei que os maginíficos engenheiros que concebera tão estonteante parto, foram os mesmo que construíram “Machu Picchu e Stonehenge”.

Pela velocidade relâmpago da construção, tipo da noite do dia 21 pra manhã dia 22, como se fosse os deuses os astronautas que numa nave de formato esférico, dormisse no logradouro, e ao levantar voo entre o ocaso nebuloso e a aurora  boreal deixasse ali uma grande roda de cimento e areia 12×1 pronta para o descerramento da fita que inauguraria uma das maiores obras já construída por um prefeito no Brasil, e creiam amigos, isso estava acontecendo em Itororó, diante dos meus olhos, olhos que a terra não haverá de comê-los porque doarei para algum banco de olhos ou para algum rato que anda espreitando-os para roê-los.

Fez se então a luz do dia e todos estavam chegando para a grande inauguração da obra do século. Esta obra valia mais que todas as obras reunidas em todos os governos passados. Portas de guarda-roupas rompiam-se, o ascendente cheiro de naftalina se desmanchando no ar como tudo que é sólido, e os gerânios, as orquídeas de Mundinho do Rio do meio, as tulipas negras e os flamboyants se abriram nesse dia como jamais se abriram, era tão monumental a tal obra que pareciam um evento divinal, era como se fosse atravessar o mar vermelho ou ver Santos Dumont decolar com seu 14 bis pela primeira vez pelos arredores de Paris.

A multidão se achegava ao largo como nunca antes, o vento seco e arrogante da falta de umidade e humildade do ar, batia nas cambraias estampadas e nas lycras de fios sintéticos, nas tramas falsas das madames, e nos paletós da ilustres sumidades presentes. Cada uma mais bem vestida que a outra, as mulheres com seus  “modelitos” tirado de novela, cheirando a guardado  de tanto esperar por esse dia.

Eis que rondava ao derredor da roda  a visita aziaga de ilustres vereadores que queriam discursar e sair bem na fita, ao lado de “personas” ilustres, autoridades  altamente internacional, exalando enxofre com “Azzaro”  do Paraguai, numa espécie de anti-climax composto de fumo, cinzas do lugar e desodorante “Mistral”, que contaminavam a todos, importados diretamente do reino podre da Dinamarca, para nossa queridíssima e dulcíssima Itororó. Enfim a roda misteriosa logo em seguida seria batizada e crismada com a anuência das autoridades eclesiásticas e a indispensável e honrosa presença de Joseph Ratzinger, vossa santidade o papa Bento XVI para tornar benta “A OBRA DO SÉCULO. Dez horas da manhã o bicho pegou. Finalmente a roda seria inaugurada.

Hora do discurso e tome-lhe “chaveco” e propaganda. Todos bateram palmas e não pediram bis, Chaveco, propaganda eleitoreira, conversa fiada “inrroleichon”, incenso, mirra, aspersório, agua benta, vinho, alfaia e tome-lhe propaganda eleitoreira. O prefeito, o dono da voz, o que diz quem vive e quem morre no município (porque detém o poder da caneta), o senhor dos anéis e dos manés, repetia bizarramente o discurso como se tivesse enganchado o disco e, todos, novamente bateram palmas num desenho mágico, satisfeitos com a obra de mais de 1.000,000,00 (UM MILHÃO DE REAIS), tão invisível quanto os moradores do local. Com este ato chancelamos nossa redenção socialista. Valeu Adroaldo! Você é o cara!

A RODA, depois de 5.500 anos de inventada pelos sumérios, e por conta da burocracia dos milênios e dos séculos, finalmente o prefeito de Itororó Adroaldo Almeida consegue inaugurar a roda.

A foto é oficial, a obra é fictícia. Qualquer semelhança com a ideia que você tem do nada, não é mera coincidência não. É o nada mesmo em toda sua plenitude e concepção. Adroaldo é merecedor do urso de Berlim e da Palma de ouro em Cannes. Prêmios concedidos aos grandes do cinema mundial.


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