ITORORÓ: MIRO MARQUES, UM BRONZE EM PRAÇA PÚBLICA É POUCO
Miro Marques
Por Milton Marinho
Por ter contado a nossa história, por ter vivido e por ter passado por ela sem que a tenha maculado, relatando-a, sob a ótica dos interesses sócio-economico-cultural, dos que foram pela fé, os arautos que verdadeiramente a compôs, e, por todos os que fizeram parte dela, quer sejam protagonistas, coadjuvantes e figurantes da grande cena da vida em seu tempo e fora dele, todos absolutamente, devem estender um tapete vermelho pra este repórter amador na acepção mais cristalina da palavra (assim como o boxe cubano), de nossa velha guarda, Miro Marques. Tão moderno quanto o tempo que ainda estar por vir.
O nosso Eduardo Bueno, Cid Teixeira, Câmara Cascudo e Gilberto Freire, todos estes repórteres gigantes da história do Brasil, estão reunidos numa “garrafada” só, chamada Miro Marques que é o que há de mais representativo para todos nós, itororoenses e baianos da gema.
Miro é este composto vivo, antídoto para combater todos os males da memória avariada e do esquecimento, arqueólogo do tempo, que do alto de suas vitoriosas décadas registrando a nossa história, segue ainda escavando-a, e dando a ela ares de nobreza e de honradez; do pitoresco às solenidades aristocráticas da nossa região, do cotidiano aos momentos ímpares que ela, a nossa história, fulguras estrelada.
A vida passaria por nós, “talvez de viés, como a chuva oblíqua passa”, mas eis que chega o maquinista Miro Marques, este que não soube o que foi perder o trem de nossa rica história, viajou por ela, fez para nós a sua cópia mais fiel, inventou e reinventou-a, sem tirar nem por uma lasquinha sequer, conferindo-lhe o poder absoluto de não podermos caminhar sem que possamos olhar para trás, para que sintamos a força de seus homens e mulheres como monumentais pilares nos empurrando para frente, como soldados desbravando o futuro que nunca se encerra, seguindo avante no objetivo de ampliar os horizontes que o tempo nos contempla.
Itororó terra da carne-de-sol, de sabor inigualável, deve muito a este cidadão, pois, através de sua verve e lente revisando o passado, debruçado sobre o presente, sinalizando e tecendo a teia de um futuro radiante, através dos seus nomes ou vultos por ele registrados, foi ele o primeiro a dar nomes aos bois, e que dessa manada tudo se aproveitaria. Inclusive o berro, que Miro Marques o transformou em nossa história, no mais genuíno canto seminal.
Portanto, por nos imortalizar ao seu modo, por não ter se dado por vencido contra os vencedores que gostariam de escrever a história de outra maneira, Miro se valeu da única arma de que dispunha para traçar o perfil de um povo, sua pena, e a escreveu sobremaneira.
Com ela, como quem pratica o ofício da marcheteria, Miro, embute com engenho e arte, numa técnica de ornamentar as superfícies e as profundezas da alma humana e das coisas, através da memória coletiva e diversa, aplicando sem pudor o que cabe à peça. Nele, ressoam termos e terminologias que competem a um profissional de oficio, escavando as regiões e os grotões mais recônditos da memória regional, escreveu o que tinha de escrever, colocando Itororó e seu povo no panteão da história. Não tenho nenhum constrangimento em cravar, que um busto de bronze reluzente em praça pública para Miro Marques, é muito pouco para pagar o que Miro tem feito por todos nós.
Quem não passou pela lente e pela pena de Miro Marques, não pegou o bilhete que dá acesso ao trem da história.