prisco entrev.

Detido há dez dias no Presídio da Papuda, Brasília, o vereador Marco Prisco (PSDB), principal liderança de greves da PM na Bahia, falou com exclusividade ao A TARDE. Perguntas foram impressas e levadas pelo advogado da Associação de Policiais Militares e Bombeiros e seus Familiares (Aspra), Leonardo Mascarenhas, que esteve com Prisco na cadeia. Confira a entrevista:

Como o senhor descreve o ambiente do Complexo Penitenciário da Papuda? Qual o seu estado de saúde física e mental? 
Como um terror. Estou bem fisicamente, mas mentalmente destruído. Não como, sinto fortes dores de estômago e tenho medo de que isso influencie no meu problema de coração, que é genético. Sinto-me deprimido…

Como foi estar preso com outros detentos em uma cela coletiva? O senhor sofreu algum tipo de ameaça por parte dos colegas de cela?
Estou com medo e tenho muito temor por minha vida.

O senhor foi preso enquanto se dirigia à Costa de Sauipe para passar o feriado da Semana Santa com a família. Como foi o momento da prisão? Qual a reação dos seus familiares ao terem o carro interceptado por agentes da Polícia Federal?
Muito triste, aterrorizante. Estava na frente de meus filhos e esposa. Eu fui tratado como criminoso, coisa que eu não sou.

O senhor foi detido no dia 18. No entanto, o pedido de prisão foi feito pelo Ministério Público  Federal (MPF) três dias antes. De acordo com o órgão, a prisão é referente à ação penal movida em 2013, pela prática de crimes contra a segurança nacional praticados durante a greve de 2012. A prisão foi uma
surpresa?

Sim, foi uma surpresa porque não há provas no processo. Ninguém ainda foi ouvido nele. Tudo baseado na Lei de Segurança Nacional, da época da ditadura, que já foi alvo de análise do Supremo, que declarou inconstitucionais diversos requisitos desta.

As negociações com o governo do estado começaram há nove meses. Mesmo após longo tempo de conversa, por que não foi possível chegar a um acordo? 
Depois de muitas e muitas reuniões, apenas 5% do que foi apresentado pelas associações foi aprovado pelo governo. Adiamos a primeira assembleia para dar mais prazo ao governo. Ninguém queria esta greve, mas quem inflamou a tropa foi o governo, quando frustrou os policiais militares da Bahia.

Alguns veículos de comunicação chegaram a divulgar que o senhor era contrário à greve. É verdade?
Sim, fui contra a greve, tanto nessa quanto na outra, mas quem decide é a categoria. A opinião da tropa é e sempre será soberana.

Como o senhor avalia a forma como a greve foi suspensa? Ainda há pontos a serem discutidos? 
Acredito que ainda há pontos a serem discutidos e sempre estivemos abertos a debatê-los.

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, foram 104 assassinatos em Salvador e região metropolitana da noite de terça-feira (15), quando a greve foi decretada, até domingo (20), três dias depois de os policiais terem voltado ao trabalho. Nesse período, a média foi de 17 homicídios por dia. Em condições normais, a média diária, segundo informações da PM, é de cinco homicídios. Só no feriado da Semana Santa, já com os policiais de volta ao trabalho, o número de assassinatos foi 57% maior que no mesmo período do ano passado. Houve, ainda, um aumento significativo de roubos de veículos, além dos saques. Como o senhor vê o crescimento do número de ocorrências durante a paralisação das atividades da PM?
A violência não é por conta do movimento. Em Salvador e região metropolitana, em um final de semana, já tivemos 44 homicídios. Não sou eu quem está dizendo, são dados da Organização das Nações Unidas (ONU), que aponta Salvador como a 13ª cidade mais violenta do mundo. O que gostaria que as pessoas entendessem é que discutimos melhorias para a população baiana, e não para uma categoria. Se tivermos uma polícia melhor, os baianos gozarão de segurança pública de qualidade. Ressalto que, durante as mobilizações, 40% da tropa trabalhou.

Qual foi o papel de Jaques  Wagner (então deputado) na greve de 2001? Agora, apenas no segundo mandato dele, a PM paralisou as atividades por duas vezes. Naquele momento, ele foi um parceiro da categoria?
Em 2001, ele foi além de parceiro, deu total apoio, inclusive publicamente.

Como o senhor acha que ficará a situação do seu mandato na Câmara de Vereadores? O senhor teme ter o cargo suspenso?
Não. Confio em meus pares. Os vereadores sabem que estou impedido de exercer meu mandato por conta de uma prisão arbitrária, que havia perdido objeto.

Embora não haja mais indicativo de greve, os policiais do estado estão mobilizados para que o senhor deixe a prisão. Qual mensagem o senhor deixa para a tropa? 
A mensagem que eu deixo para a tropa é que tenha tranquilidade. Peço humildemente que, sem movimentos, sem paralisações, continuem cobrando das autoridades a minha liberdade e trabalhando em prol da sociedade. Sou vereador de Salvador, acredito que o certo é minha prisão na Câmara ou domiciliar. Passo horas me perguntando como isso aconteceu. Clamo por minha liberdade.

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