Carlismo persiste com nova roupagem

 

Prof. Dr. Reginaldo de Souza Silva*

Após cinco anos, o des-governo na Bahia começa de forma exponencial a demonstrar o seu fracasso. A chamada revolução ética, política e partidária prometida deu lugar ao caos (real) das políticas sociais. Sonhos, esperanças e confiança da população, expressos nos 60% de votos, se esvaem em ações de um governo corporativo destinado apenas a beneficiar uma minoria, não conseguindo, portanto, redimir a Bahia das décadas de atraso, do coronelismo político e da falsa promessa de desenvolvimento econômico e social para o Estado. O terror dos apadrinhamentos vence as esperanças; a confiança dá lugar ao medo; as ameaças superam o diálogo e as ingerências administrativas dão a tônica no serviço público. As chamadas “negociações democráticas” representam apenas a face mais perversa de um governo maniqueísta, no qual apenas suas “verdades” e vontades é que devem, por fim, prevalecer.

Com práticas semelhantes aos governos anteriores, o governo atual da Bahia, encabeçado pelo partido que antes representava os trabalhadores, demonstrou a que veio: recuperando práticas ardilosas, através de compra de cargos, tentativa de manipulação e compra da imprensa, trocou uma elite dirigente por outra que revela suas matrizes teóricas e práticas administrativas e políticas caudatárias na mesma referência do “carlismo”, outrora representado pelo PFL e sua caravana denominada o eixo do ¨mal¨.

O governo, eleito sob a égide da oposição, tem tomado atitudes que vão contra tudo aquilo que ele apregoou durante a campanha eleitoral. Do mais esclarecido ao mais simplório dos eleitores já lhe é possível constatar que estamos vivendo a era política do Neocarlismo, na qual o assistencialismo barato, associado à ignorância e à esperteza, “na calada da noite”, vende as estradas federais do estado, desmonta a cúpula da polícia, leiloa os cargos de governo, fragmenta as secretarias de governo e, por fim, sucateia a educação baiana. Aprendizes de feiticeiros, o governo Jacques Wagner, e suas coligações atuais, representam uma corrente que, outrora, combatentes do eixo do mal, hoje agem como sua imagem e semelhança. 

Especificamente em relação à educação, o estado da Bahia representa o que de pior podemos esperar em indicadores avaliativos. Se outrora culpavam os “feiticeiros” (ACM e os governos posteriores), hoje não podem mais se esconder na denominada herança do passado. O momento presente insiste em demonstrar a toda a sociedade que o governo que aí está também não demonstra compromisso com a educação baiana.

Os professores e estudantes das universidades estaduais da Bahia, atentos a todo esse processo, nas últimas semanas, têm ocupado as ruas, praças e os espaços públicos para denunciar e alertar a população sobre o caos da educação superior no estado da Bahia.

Protestam contra decisões recentes do governo Jaques Wagner em retirar a autonomia das universidades estaduais baianas, através de decretos de contingenciamento. Só para esse ano, o governo baiano anunciou o corte de mais de R$ 1 bilhão no orçamento com reflexo direto nas universidades, onde estabeleceu o repasse de apenas 40% o seu orçamento até o mês de outubro.

Tal medida afeta drasticamente a contratação de novos professores, provocando o cancelamento de várias disciplinas, impede e dificulta a qualificação e a progressão na carreira dos docentes e também impossibilita a expansão das universidades, pois inibe a criação de novos cursos, a melhoria dos que já existem, a compra de livros e equipamentos eletrônicos de uso da comunidade acadêmica bem como, por fim, inviabiliza parte das atividades diárias de manutenção das universidades.

Quanto ao reajuste salarial dos docentes das universidades baianas, apesar de ser o segundo pior do nordeste, o governo apresentou na mesa chamada de negociação (que poderíamos chamar de mesa de tapeação, enganação, enrolação…) cláusulas que levariam a um congelamento dos salários por mais três anos.

Por fim, lamentamos que docentes, que outrora serraram fileiras na luta por uma educação de qualidade na Bahia, tenham sido cooptados por cargos no governo e tenham abandonado a luta pela ampliação do acesso, da permanência e da qualidade na educação superior do estado da Bahia. Lamentamos que aqueles que antes criticavam os “feiticeiros” quando estavam na oposição, na verdade se tornaram ótimos aprendizes e repetem seus feitos com o cinismo próprio de quem supera seus mestres.

Diante desses fatos, os docentes e discentes das universidades não poderiam ficar calados, pois, é fato que, nos últimos anos, os baixos salários e as precárias condições de trabalho, tem levado as universidades estaduais a perderem muitos de seus docentes qualificados para outras instituições de ensino superior (e inclusive também de nível técnico!). A greve, sabemos, deve ser o último recurso a ser utilizado. Mas, parafraseando o grande Martin L. King, ela também é o instrumento daqueles que não são ouvidos. E os docentes e discentes das universidades baianas têm “gritado” muito nos últimos quatro anos e não foram ouvidos, sendo necessário, então, o uso desse último recurso.

Estamos em greve! E conclamamos a que a população deste Estado, que sempre soube dar respostas as crises e desmandos, assuma a bandeira da Educação Pública de Qualidade para a Bahia, requerendo para si e para suas gerações futuras uma Bahia diferente, democrática e que pertença, de verdade, a todos nós.

* Reginaldo de Souza Silva, Doutor em Educação Brasileira, professor do Departamento de Filosofia e Ciências Humanas da UESB.

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